quinta-feira, 23 de março de 2017

#DnDGateBR - A Polêmica do Lançamento do D&D 5ªed no Brasil

Dia 21 de Março de 2017 tinha tudo para ter sido um dia de grande alegria, afinal, naquela terça-feira foi anunciado que a 5ª edição do D&D seria lançada em outras línguas que não o inglês. Mais do que isso: haveria uma edição brasileira do jogo, publicado pela empresa Fire on Board.

Apesar do anúncio ter sido realizado mundialmente pela própria Wizards of the Coast, pela Gale Force Nine (a empresa que ficou responsável pelo licenciamento da marca D&D para os países de língua não-inglesa), e nacionalmente pela própria Fire on Board, eu nem tive ânimo de divulgar a notícia por aqui. Tudo porque a boa notícia foi eclipsada por uma informação muito mais bombástica...

Logo após o anúncio da Fire on Board, começaram a surgir acusações de que a empresa em questão havia "passado a perna" em parceiros e  tomado a licença do D&D para si. As empresas que haveriam sido trapaceadas teriam sido a Redbox Editora e a Meeple BR, além de Fábio Ribeiro, que haveria atuado como despachante para as empresas.

Foto tirada na casa do Antonio Pop, em Niterói, no dia 05 de Maio de 2016, no que teria sido a reunião dos possíveis sócios. Da esquerda para direita: Yure (FoB), Aline (FoB), Antonio Pop (RBX), Fabiana (RBX), Fabio Ribeiro, João Barcelos (FoB), Fabiano Neme (RBX) e Diego (Meeple BR).


E porquê isso me desanimou a divulgar a publicação do D&D 5ªed em português, você pergunta? Simples: porque se fosse verdade, provavelmente significaria que a Fire on Board nunca consiga publicar o D&D e que o anúncio da licença foi um ato em vão.

Enfim, as empresas trocaram acusações e publicaram esclarecimentos através do Facebook, e para tornar a história mais clara para todos, reproduzirei aqui estas postagens na íntegra (vou reproduzir os textos, ao invés de colar prints).

Para começar, é bom analisarmos a primeira postagem que traz o caso à tona - a denúncia de Antonio Pop, da Redbox, sobre a suposta "trapaça" da Fire on Board:

Se tiver paciência de ler, não curta. COMPARTILHE! Obrigado!

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FOI UM DIA ESPECIAL... aquele 28 de novembro 2015. Fábio Ribeiro, nosso despachante, havia conseguido uma brecha com a Hasbro e haveria a possibilidade de começarmos a tratar da publicação do D&D no Brasil. Para uma tarefa tão árdua, tão grande, tão pesada o Fábio cometeu o primeiro dos erros que cometeria nesta história toda, mas com certeza o mais complicado dos erros.

Formou um grupo de editoras que trabalhariam no projeto D&D, ou seja uma forma de unir editoras para conseguir a publicação do D&D no Brasil em português.

Foram convidadas para o projeto a Redbox, a Meeple BR e a Fire On Board que formariam uma nova editora, uma Joint Venture chamada FMR (com as iniciais das empresas, Fire Meeple Red) com objetivo único de publicar o D&D.

Após meses de reuniões, idas e vindas, emails respondidos, outros esquecidos, projetos formulados, formulários preenchidos, estávamos muito próximos de conseguir finalmente a licença do D&D para o Brasil quando descobrimos uma informação quente. A Gale Force Nine da Inglaterra estava sublicenciando o D&D para outros idiomas com o Aval da Wizards. Havíamos descoberto o por que do processo estar parado em Seattle.

Aqui cometemos o erro 2. Vejam só:

Trocamos o Fábio, interlocutor com a Hasbro/Wizards, pelo João Barcelos da Fire On Board. Deste ponto em diante o João seria o responsável por negociar o licenciamento do D&D pela FMR. e assim foi por todo o ano de 2016 quando tivemos uma reunião em ESSEN com a Gale Force Nine.

Na reunião conhecemos toda a equipe, ficamos sabendo que iríamos ser a editora do D&D no Brasil que tudo estava certo e que teríamos que correr com a produção, tradução e etc. Estava tudo certo. Só falta o que? O contrato da Wizards conosco que estava sendo "aprovado" pela matriz e seria assinado em breve.

Com essa resposta positiva de sucesso nas mãos, partimos para a parte prática da coisa. Marcamos uma reunião com todas as empresas aqui em Niterói em novembro de 2016. Eram os últimos passos para termos o D&D em português. E eles foram dados durante um sábado de grande trabalho numa reunião que levou praticamente o dia inteiro.

Veio pela Redbox, eu e o Fabiano pela Redbox, o Diego Bianchini pela Meeple Br, o Fábio Ribeiro pela Rigo Logística e pela Fire on Board uma comitiva. João Barcelos, sua namorada Aline e o irmão da namorada do João (?!?!?) Yuri.

Várias coisas ficaram decididas. Preço, forma de trabalho, divisão das tarefas (a Redbox ficaria a cargo da parte editorial, tradução, diagramação e parte gráfica bem como a comercial), um selo para ser trabalhado e não confundir com as empresas antigas, que teríamos um blog para material não oficial, quem faria essa ou aquela coisa. Enfim, decidimos TODA a parte contratual da FMR. Sabíamos quem faria o que e quanto cada empresa teria de pagar para entrar no projeto.

Como já era novembro e o prazo era curto, começamos as traduções já na semana seguinte. Formamos um equipe de tradutores e revisores profissionais (Gabriel de Oliveira Brum, Nino Xavier Simas e Elisa Guimarães) que também eram jogadores para traduzir o Players e deixamos a coordenação da tradução na mão do Igor Moreno. Conheço poucas pessoas que manjam mais de traduções, inglês e D&D 5 ed. no Brasil (Valeu cara! Fomos sacaneados mas valeu pelo trabalho classe A)!

No entanto após a formação da empresa estar combinada algumas coisas começaram a acontecer, isso acendeu a luz amarela, mas infelizmente nunca tivemos uma visão clara do que estava acontecendo...

O contrato da Wizards nunca chegava. as reuniões que o João Barcelos fazia nunca eram reportadas direito. só frases curtas e sem muito direcionamento, tipo "eles estão cansados do evento. Ficou pra semana seguinte". E coisas desse porte. A Luz amarela começava a ficar laranja.

Veio o ano novo e a promessa era de contrato assinado em janeiro!

Esperamos janeiro e a assinatura do contrato foi prorrogada mais uma vez para fevereiro.

Chegamos em fevereiro e descobrimos que a FoB já estava usando a alcunha "editora que publicará o D&D no Brasil" como forma de melhorar o seu desempenho junto aos lojistas. Interpelado por isso, João Barcelos pediu desculpas e disse que isso não se repetiria...

E não se repetiu.

No dia que receberíamos o contrato para assinar, recebemos um email vago e exageradamente pseudojurídico informando que a FoB não tinha mais interesse no projeto e se retirava do projeto D&D/FMR.

Como assim? Mas em que pé as negociações pararam? Por que vcs saíram do projeto? Nada foi esclarecido e quando procuramos a Gf9 para retomar a negociação, a bomba!

"A Fire on Board já assinou o contrato do D&D para o português. Desculpe mas não sabíamos dessa história. Passar bem."

E foi assim que soubemos que fomos sacaneados. Muito sacaneados.

Fizemos várias reuniões sobre como lidar com isso? Jogar no ventilador? Processar? Embargar o negócio? Mandar comunicação por escrito através de advogados? Temos pilhas e pilhas de provas, emails, fotos, mensagens, e até vídeos e áudios, vale a penas processar? Vamos Comunicar a Wizards e a Gale das complicações jurídicas que viram pela frente? Foram várias as sugestões do que fazer.

No fim, definimos que não iríamos atrapalhar o D&D no Brasil. Não seria justo com esse monte de jogador que anseia pelo livro e que não tem oportunidade de jogar em inglês. Não atrapalharemos nosso mercado. Não sacanearemos com ninguém.

Essas coisas pertencem a vida. À entidade que vc acredita. Seja carma, inferno, danação eterna, consciência, lado negro da força. Seja no que você acreditar.
Estas coisas voltam e elas costumam voltar em dobro! Aproveite enquanto você consegue! Seja feliz! E continue baixando a cabeça quando passar perto da gente. Pessoas que agem dessa maneira, que acreditam que "vale tudo no mundo corporativo" não costumam ir muito longe. Ou melhor elas chegam até muito longe, mas quando caem... #eikefeelings

Deve ser um orgulho danado anunciar a publicação no seu país e no seu idioma! Mais do que caminhões de dinheiro (que nós sabemos pelas contas e orçamentos que fizemos enquanto estávamos no projeto, não virá) deve dar um orgulho danado ser o portador da licença do D&D no Brasil. Mesmo que para isso você tenha de enganar outras 3 empresas, dezenas de pessoas, esmagar sonhos pessoais, realizações de infância de um monte de gente.

Enfim, pra concluir. Parabéns pro nosso mercado que voltará a ter o D&D e português. Parabéns pela Fire On Board pelo golpe de mestre. Talvez vcs entendam mais de D&D do que a gente por que rolaram um 20 no ataque pelas costas.

Pra nós, resta apagar os PVs perdidos e seguir em frente. Nos vemos no Vigésimo Nível.


Bem, é um relato longo mas que em resumo afirma que o despachante Fábio Ribeiro havia contatado a Hasbro/WotC, ainda em Novembro de 2015,  e conseguido uma brecha para negociar a licença do D&D para o português. Assim, foram convidadas as três editoras - Fire on Board, Meeple BR e Redbox - para formar uma joint venture (um termo bonito para empreendimento conjunto, uma empresa formada com fim específico) para a publicação do D&D. Nesse ponto aparentemente a Gale Force Nine (ou GF9) ainda não estava na jogada.

Aqui é bom explicar o papel da GF9 nisso tudo. A WotC decidiu em determinado momento que seria mais simples para ela licenciar as produções localizadas (isso é, em outras línguas) do D&D para uma única empresa - no caso a GF9 - e esta teria o poder de sublicenciar os produtos com empresas de outros países. A GF9 teria (e tem de fato) todo o controle de realizar os contratos de tradução e produção dos materiais do D&D em línguas não-inglesas, assim como de supervisionar essas sub-licenças.

Eu entrei em contato com a Redbox e eles reiteram que a versão deles é exatamente como foi descrita pelo Antonio Pop. E que, apesar do que foi dito inicialmente, de que não iriam tomar providencias judiciais para não atrapalhar a publicação do jogo no Brasil, após o enorme apoio da comunidade RPGista, eles mudaram de ideia e agora afirmam que irão processar a Fire on Board.

Bem, mas eram 3 empresas envolvidas, não é mesmo? Sim, e a Meeple BR também se pronunciou a respeito:

*** POSICIONAMENTO OFICIAL ***

Hoje, foi veiculado mediante um desabafo do Antonio Pop, diretor da Redbox Editora, um problema envolvendo D&D 5 edição e a FoB, Redbox e Meeple BR. Tal situação teve uma grande repercussão, e reflete bastante o momento político-cultural que vivemos no país atualmente.

Em virtude do pedido de muitos amigos e parceiros na explicação do caso, é justo nosso posicionamento: Sim, as afirmações feitas na postagem da RedBox procede a cada linha.

Durante mais de um ano, as 3 editoras (FoB, Redbox e MeepleBR) trabalharam em conjunto na missão de obter o licenciamento do D&D. Foram meses seguidos de negociações, conversas intensas, expectativas e investimentos (estes, afirmados pela própria pessoa do responsável da FoB).

A intenção enquanto conglomerado era a constituição de uma nova empresa que daria rumo ao licenciamento, que teve seus contratos redigidos, e-mails produzidos, aceites emitidos e muitos pagamentos efetuados. Cada empresa assumiu uma responsabilidade, e coube e FoB as conversas externas e marketing. Infelizmente, a FoB agiu de MÁ-FÉ, assinando o contrato do licenciamento diretamente, contrariando todas as convenções assinadas anteriormente, e ignorando todos os conceitos legais.

É nosso entendimento que uma licença de tal porte é deveras importante, gerando uma responsabilidade absurda para com seus fãs, e, por sabermos de nossa pequenez, e reconhecemos limitações, acreditávamos, na ocasião, que esta parceria fosse uma forma de juntar forças e oferecer algo novo e de qualidade.

Entendemos que transparência e confiança é algo vital para o mercado atual, tão dinâmico e em constante mudança. PORTANTO, nossa intenção aqui é deixar uma manifestação de TOTAL REPÚDIO A ATITUDES DESLEAIS promovidas pela Fire on Board, movidos pura e simplesmente pela ganância de seus sócios, da mesma forma que temos nos comportado frente a esta crise política-cultural. Não precisamos de ações que fazer apenas apequenar o mercado, pois quem paga o preço é sempre o consumidor! O mercado não precisa ser predatório e sem limites. Felizmente, também é de nosso entendimento que o mercado se auto-regula, e situações como esta não são mais aceitas pelos consumidores, ansiosos por apoiar e consumir de empresas responsáveis, éticas e preocupadas com o ambiente que está inserido.

Por fim, nos reservamos a tomar as decisões jurídicas que forem cabíveis. E seguimos confiantes em nosso simples, mas honesto, trabalho.

Meeple BR Jogos


Ou seja, a Meeple BR confirma toda a versão da Redbox.

Consegui entrar em contato com o Diego Bianchini da Meeple BR e ele disse o seguinte:

"Nós endossamos todo o pronunciamento da Redbox, através do comunicado oficial em nossa página. Podemos acrescentar que recebemos mensagens de apoio de praticamente todo o mercado, o que somos muito gratos. A era da informação é implacável com empresas irresponsáveis junto aos envolvidos (stakeholders), e atitudes como as promovidas pela FoB neste caso são extremamente danosas à imagem da empresa. Atuamos em um mercado globalizado, e dependemos de licenciamentos de fornecedores externos, conquistado com ética, transparência e prestígio, INCLUSIVE junto às demais empresas 'concorrentes'."

Ainda segundo o Diego, a ideia da joint venture partiu do Fábio Ribeiro, que atua como despachante aduaneiro e prospecta contatos fora do país para editoras - e que seria sócio nessa parceria. A ideia teria surgido na CCXP de 2015 (que ocorreu entre os dias 3 a 6 de Dezembro de 2015), e amadureceu definitivamente na Abrin de 2016 (que ocorreu entre 5 e 8 de Abril de 2016), após sequencia de reuniões na Hasbro feitas pelo Fábio.

Frente a essas acusações, João Barcelos da Fire on Board rebateu com o seguinte pronunciamento:

Como CEO da Fire on Board Jogos, venho comunicar sobre as acusações mentirosas e falsas que estão sendo propagadas à respeito da Fire on Board Jogos nas redes sociais.

Agora vou contar como realmente aconteceu.
Toda negociação, desde o princípio, foi realizada entre a Fire on Board Jogos e a Gale Force Nine, nossa parceira no projeto. Não houve nenhum intermediário, além de mim responsável pelos contratos internacionais. A parceria logo se formou e trabalhamos arduamente para tal. Ambos os lados.

Com o passar das reuniões, consideramos algumas empresas brasileiras para nos ajudar neste grande projeto. Não negamos que conversarmos com tais empresas. Conversamos sim. Pensamos em ideias, porém, como vou falar mais adiante neste texto, não foram para frente por diversos motivos, o maior: falta de confiança.

Portanto, vamos deixar claro: não houve troca de interlocutor, não houve negociações diretamente com a Wizards/Hasbro. Não houve entre a Fire on Board e as demais editoras nenhum acordo.

Foi informado em tal post que a negociação estava para se concretizar. Agora, me pergunto eu: como algo pode se concretizar antes mesmo de começar?

Tivemos uma reunião presencial em que nada se concretizou. Conversamos e cogitamos hipóteses. E, nesta oportunidade, a RedBox Editora resolveu adiantar a tradução. Depois esta tradução nos foi cobrada e pagamos através de uma transferência ao Diego Bianchini. Mas sequer recebemos, vimos, participamos etc.

Inclusive sentimos muito aos tradutores que se esforçaram para entregar um bom trabalho, que apesar de não termos visto, temos certeza que deve ter ficado muito bom devido às pessoas envolvidas.

Com o passar do tempo, houve vários empecilhos que nos provaram que não seria viável começar uma possível parceria com as demais empresas. Poderia citar e provar vários fatos que acontecerem prejudiciais a Fire on Board Jogos e a vinda do D&D. A maioria relacionada à falta de confiança e desentendimentos. Como estávamos desde o início trabalhando com a Gale por conta própria, decidimos não começar nada com tais empresas e focar no trabalho que já estávamos fazendo.

Avisamos a tais empresas a tempo que não queríamos iniciar nenhum tipo de acordo com elas.

Trabalhamos muito, mas muito mesmo, para trazer o D&D para o Brasil. Foram vários testes de Resistência de Fortitude para evitar níveis de exaustão.

Fico muito triste por saber que isto está vindo à tona agora em um dia tão feliz para toda a comunidade de RPG e para nós. Porém, estamos felizes de saber com 100% de certeza que tomamos a decisão correta.

Não devemos nada a ninguém. Essa explicação é para nossos clientes, consumidores, fãs, seguidores e amantes de RPG e board games. Não é um ataque a nenhuma empresa, mesmo por que não precisamos disto para crescer ou aparecer.

Nunca prejudicamos ninguém e temos plena consciência de nossas atitudes e responsabilidades.

Peço que não acreditem em algo tão vazio e antiprofissional. Tenho certeza que um projeto tão maravilhoso quanto o D&D não iria para uma empresa pequena (de atitude) que fica falando de problemas pessoais pelo Facebook.

Não postamos nada relacionado a hashtag invejoso, nem nado tipo. Não somos assim e não fazemos este tipo de coisa. Novamente, estamos aqui para receber sua dúvida, opinião e demais solicitações.

Esses são os fatos.

O lançamento do D&D é uma notícia incrível. Não queríamos ter que passar por isto e nem fazer vocês passarem. Nos desculpe. Foi mesmo um erro nosso: tentar qualquer coisa com eles.

Estamos aqui para fazer um ótimo trabalho. Que o novo dragão chegue belo e glorioso ao Brasil.

Muito obrigado a todos que nos desejam sucesso.
Trabalhamos por vocês!

João Barcelos e toda equipe Fire on Board.


Resumindo, a versão da Fire on Board é de que desde o início o contrato foi negociado entre sua empresa e a GF9, e que nunca houve contato direto com a WotC/Hasbro. Eles não negam que sondaram outras empresas para uma possível joint venture, mas alegam que nada foi firmado e que após analisarem a situação desistiram desse plano.

Tentei contato com a Fire on Board, mas até o presente momento eles não retornaram. Mas o blog Módulos RPG postou ainda no dia 21 de Março o seguinte comunicado de alguém da Fire on Board:



Não posso afirmar com certeza, pois não encontrei a versão original dessa postagem no Facebook (a razão de colar o print), mas acredito que isso tenha sido publicado antes do comunicado oficial da Fire on Board que reproduzi acima.

Até esse momento, o que tínhamos eram apenas acusações e contra-acusações. Ninguém havia apresentado provas de nada do que se afirmou. Ainda assim, o caso tomou repercussão nacional, e mesmo internacional:

O EnWorld é um dos maiores sites de RPG do mundo (se não o maior) e em seu fórum alguém postou sobre o assunto dizendo que a WotC deveria ficar sabendo, ao que o moderador do fórum respondeu "A WotC sabe."

Na ânsia da comunidade, tanto os que apoiavam um lado quanto o outro - por provas, Fabiano Neme, sócio e diretor jurídico da Redbox fez uma postagem em seu blog Nemenomicon onde não só resumia os acontecimentos como também copiava dezenas de prints de conversas entre os sócios das empresas.

Entre as informações replicadas por fabiano Neme está o e-mail da Aline comunicando o corte das relações da Fire on Board com as outras empresas, enviado em  15 de Fevereiro de 2017:

Olá, Boa noite.

Por motivos estratégicos e logísticos, além da ocorrência de alguns fatos que vão de encontro com a filosofia ética da empresa, a Fire on Board Jogos não poderá dar sequência ao projeto ventilado/fantasiado na reunião feita, restando prejudicada, pois, todas as tratativas ali idealizadas para a formalização deste projeto.

Decidimos formalizar isso por e-mail para ficar esclarecido para todos, que estão recebendo este e-mail, todos juntos.

Estamos abertos a conversa. Entretanto, nossa decisão é certa, e não pretendemos retroceder.

Respeitosamente,

Fire on Board Jogos


Ou seja, em meados de Fevereiro a Fire on Board desistiu da joint venture. Mas pelo que é dito nesse e-mail não fica claro se informaram aos demais parceiros que continuavam negociando com a GF9.

Por razões óbvias não vou reproduzir todos os prints aqui, o que seria desnecessário. Mas talvez alguns sejam interessantes para jogar alguma luz sobre o assunto.



Estes 2 prints de conversa deixam transparecer que todos os envolvidos tratavam a empreitada como uma empresa, incluindo o representante da Fire on Board. Este, inclusive, chega a utilizar o termo "a empresa" para se dirigir ao projeto sendo desenvolvido. Claramente havia divisão de tarefas e coordenação dos trabalhos dentro do grupo formado pelos sócios.


Esses print de conversa vai além, e demonstra que não só os envolvidos concordaram com a formação da empresa, como um contrato chegou a ser redigido.

Além disso, a tradução do Player's Handbook chegou a ser realizada pela equipe contratada e supervisionada pelo Fabiano Neme, que tinha o Igor Moreno como diretor de tradução.



As conversas acima mostram que a tradução organizada pela equipe da Redbox também teria sido enviada para a GF9 como prova da capacidade da empresa de realizar o projeto, a pedido da própria GF9. Tal tradução só foi possível porque a Fire on Board, que estava responsável por fazer a ponte com a GF9 repassou à equipe da Redbox os arquivos abertos originais do D&D, como foi demonstrado pela Redbox em uma resposta oficial à Fire on Board no dia de hoje:




Se as empresas não trabalhavam juntas, por quê a Fire on Board liberou os arquivos para a Redbox? Como foi dito pela Redbox em sua resposta às acusações de calúnia, isso seria uma quebra contratual grave com a GF9:

Parando para pensar… Se por acaso a tradução foi uma escolha unilateral da Redbox, e se a Fire On Board nunca trabalhou em conjunto com a Redbox e a Meeple BR para o lançamento do D&D no Brasil, como a Redbox teria os arquivos abertos do Players Handbook?

E dizemos mais… seguindo a linha de raciocínio da Fire On Board, se ela nunca teve absolutamente nada relacionado conosco, por que compartilhou os arquivos do D&D com terceiros?  Isso é uma GRAVÍSSIMA ofensa a qualquer contrato de licenciamento…

Analisando as versões das histórias, o que de cara mais me chamou a atenção é que as versões da Redbox/Meeple BR e Fire on Board se iniciam em momentos distintos. Uma alega que tudo começou com uma negociação diretamente com a WotC em 2015 (versão Redbox/Meeple BR), e outra que a negociação sempre se deu com a GF9 desde o início (versão Fire on Board).

Cópias de e-mails publicados hoje tanto pela Redbox quanto pelo site Jovem Nerd corroboram a versão da Redbox/Meeple BR:


De acordo com esses e-mails, não só os primeiros contatos foram com a WotC - ainda em 2015 - como foram realizados através do despachante Fábio Ribeiro, e não da Fire on Board.





Foi inclusive formatado documentos apresentando as 4 empresas (as 3 editoras mais o despachante) para a WotC (note os 4 logotipos no cabeçalho do documento). A ideia da apresentação dos 4 parceiros parece mesmo ter sido levada ao grupo pela Fire on Board. Isso era por volta de Janeiro e Março de 2016, de acordo com as datas de e-mail - e as negociações aparentemente ainda eram feitas com a WotC.

Não fica muito claro em que momento a WotC mudou de ideia e a GF9 entrou na história, mas parece ser após Março de 2016. É possível, e mesmo provável pelo que mostram os e-mails, que a partir desse ponto a Fire on Board tenha assumido toda a negociação com o licenciador. O que corroboraria a versão da empresa de que apenas ela sempre negociou com a GF9 - o que não é o mesmo que dizer que apenas ela sempre negociou a licença do D&D para o português desde o início.

De qualquer maneira, nesse ponto o projeto da joint venture já existia, e seguiu existindo até mesmo com refinamentos do contrato sendo redigidos e abertura dos trâmites para registro da FRM (nome que teria a joint venture, formado pelas iniciais das 3 editoras):




 

Notem que isso já é entre Novembro e Dezembro de 2016. Quando tudo indica que a GF9 já estava cuidando do licenciamento a meses.

Mas em um ponto a Fire on Board aparentemente tem razão em suas alegações - eles parecem nunca ter assinado o contrato:





A respeito disso, segundo o Jovem Nerd, a Redbox alegou o seguinte:

"Desde o início, antes de descobrirmos que a GF9 estava sublicenciando o D&D para outros idiomas, sempre estivemos ligados no intuito de formar uma joint venture para negociar o D&D. O Contrato da joint venture não foi assinado pela FoB por que eles se recusaram a assinar alegando problemas pessoais, mesmo tendo tudo isso sido combinado, aprovado e concordado na nossa reunião de novembro de 2016."

Não só isso, em dado momento parece mesmo que a Fire on Board tentou introduzir alguém estranho às empresas para firmar o contrato em seu lugar - o que na prática serviria para formar a joint venture, mas poderia vir a isentar a Fire on Board de qualquer participação, já que a pessoa não teria relações com a editora e não poderia responder juridicamente por ela:



No entanto, uma coisa precisa ser esclarecida: mesmo que nada tenha sido assinado, um contrato verbal entre duas partes ainda é um contrato juridicamente válido. Se em qualquer momento a Fire on Board fez os demais envolvidos acreditarem que um contrato de joint venture foi firmado, mesmo sem assinatura e registro esse contrato poderia ser considerado válido.

Ainda segundo o Jovem Nerd, a Fire on Board apenas continua reafirmando sua posição de que  chegou a conversar com outras empresas mas nunca decidiram por iniciar algo com estas, tendo desde o início começado as negociações coma GF9 e montando uma equipe de trabalho para o D&D dentro de sua própria empresa:

"Não queremos nos adentrar em polêmicas, pois queremos ser concisos com a verdade. A Fire on Board Jogos sempre foi a empresa brasileira parceira da Gale Force Nine neste grande projeto de trazer o D&D para o Brasil. A parceria é (e foi) firmada entre Fire on Board Jogos e Gale Force Nine, apenas. Estamos trabalhando junto a ela desde o princípio. Dentro da Fire on Board, montamos uma equipe exclusiva para trabalhar com o D&D. Em certo momento, conversamos sim com algumas empresas brasileiras, mas optamos por não iniciar nada com as mesmas."

Ainda é cedo para saber como tudo isso vai se desenrolar, e me parece que muita informação pode vir à tona e muita coisa ainda pode acontecer. Continuaremos acompanhando o caso por aqui, e postando qualquer novidade relevante.

Um comentário:

  1. Caramba. Vi muitos post's condenando a tal da FoB, nem conhecia a dita cuja e agora me deparo com um escândalo rpgístico do tamanho do Watergate. Sua reportagem investigativa demonstra um profissionalismo que falta em publicações do gênero (Dragão Brasil, acorda e chama o cara!)
    Parabéns e agora veremos como a coisa desenvolve. Fiquei contente com a perspectiva do D&D 5ª Edição em Português e até cogitei vir a adquiri-lo. Mas com esta polêmica nem digo que é questão de boicote, mas sim de bom senso em não apoiar a vinda do nosso amado rpg.

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